Pensei
muito sobre o que eu deveria escrever primeiro neste blog, são tantas pautas a
serem discutidas e tantas coisas que eu quero escrever que por vezes me perdi
escrevendo um texto com mais de um assunto e outras sucumbi a eterna dúvida:
''Por onde começar?''
Existe
uma atmosfera de debates dentro dos feminismos, dentre vários motivos, como por exemplo métodos para chegar
aos seus objetivos e a inserção de um Estado paternalista. Mas o assunto que
mais gera discussão é de fato os homens. Então resolvi começar por responder
qual é o papel do homem no feminismo.
Em
pleno século XXI, ainda estamos discutindo o sexo dos anjos. A bem da verdade
esta discussão não é muito antiga visto que outrora homens tiveram papel importante
na conquista dos direitos das mulheres. Bem disse Carlota Pereira ao subir no
púlpito quando se se tornou a primeira mulher a ser eleita Deputada Federal no
dia 13 de Março de 1934.
''Além de representante feminina, única nesta Assembléia, sou, como todos os que aqui se encontram, uma brasileira, integrada nos destinos do seu país e identificada para sempre com os seus problemas. (…) Acolhe-nos, sempre, um ambiente amigo. Esta é a impressão que me deixa o convívio desta Casa. Nem um só momento me senti na presença de adversários. (...)Num momento como este, em que se trata de refazer o arcabouço das nossas leis, era justo, portanto, que ela também fosse chamada a colaborar. (…)''
Dentre outras coisas em seu discurso, ela
evidencia o papel do homem ao ajudar as mulheres na conquista do voto. Durante
a Constituição de 1890 a discussão sobre o voto foi intensa, os adversários do
voto feminino na época declaravam que, com ele, se teria decretada ''a
dissolução da família brasileira''. Mas naquela época as mulheres que lutavam
pelos seus direitos não estavam sozinhas, os homens políticos emprestavam suas
vozes para lutar pelo direito delas. Homens como Juvenal Lamartine, Saldanha
Marinho, Nilo Peçanha, Érico Coelho, César Zama e Fonseca Hermes.
Nas
eleições para a Constituinte de 1933, elegeu-se, entre “os deputados do povo”,
apenas uma mulher, Carlota Pereira de Queiroz, por São Paulo. Outra candidata,
Berta Lutz, alcançaria a primeira suplência, pelo Distrito Federal.
Em
outros tempos e em outros lugares do Mundo também surgiam homens que lutavam ao
lado de mulheres, foi assim com Marquês
de Condorcet, Heinrich Cornelius Agrippa von Nettesheim, John Stuart Mill,
Jeremy Bentham, François Poullain de la Barre dentre outros...
Ao
longo dos anos as mulheres tiveram que lutar muito para ter seus direitos
prevalecidos. Mas onde elas não alcançavam, seus aliados iam, e onde elas
alcançavam, eles estavam a apoiá-las. Historiadores, inclusive, chamam Marques
de Condorcet como o pai do feminismo pelas suas inserções em prol das mulheres
na época da Revolução Francesa. Stuart Mill foi o fundador da Casa dos Machos
Feministas. É curioso notar que este discurso de exclusão do sexo masculino é
de vertentes recentes que se baseiam em conceitos de esquerda, onde divide a
sociedade entre ''bem e mal'' como se estivéssemos em um conto infantil real.
A sociedade é muito mais do que uma guerra de
gêneros. Somos todos juntos, independente do gênero, orientação, etnia e credo,
partes importantes na sociedade e na cultura. Se nossa luta é para moldar a
cultura de forma que seja mais pluralizada, mais aberta e menos preconceituosa,
não podemos lutar achando que, agredindo, vamos conquistar algo de produtivo,
porque não vamos. Não se lava sangue com sangue, não se luta contra o preconceito
com mais preconceito.
Parece-me
que algumas feministas esquecem da história do próprio ideal e sucumbem em uma
rede de ódio ao gênero masculino, desde as mais brandas, que só dizem que homem
não pode participar e que misandria é uma reação, até as mais radicais, que
dizem que homem bom é homem morto ou que só servem para praticar sexo oral. O
que me surpreende nesses discursos é a facilidade de serem propagados e
comprados por outras pessoas, as vezes até por homens.
É
importante frisar que a ideologia visa desconstruir o machismo da sociedade,
mas, acima de tudo, ela visa igualdade de direitos e deveres e liberdade para
todos os indivíduos decidirem suas vidas como bem entenderem e não seguindo uma
cartilha retrograda de uma cultura sexista que ainda se mantém até os dias de
hoje. O feminismo é sim uma busca para colocar mulheres em pé de igualdade com
os homens, mas isso não quer dizer que devemos silenciá-los dentro do
movimento, pois eles certamente também sofrem com o machismo e fazem parte da
sociedade, e nem fazer guerra de quem sofre mais. Quantificar sofrimento não é
argumento para silenciar e agredir os homens.
Mas
como podemos lutar para sermos vistas como indivíduos se julgamos o próximo
pelo gênero? Será que muitas não estão tento as mesmas atitudes que criticam?
Se desejamos uma sociedade mais livre, não será excluindo indivíduos que iremos
consegui-la. A história já mostra que é possível homens feministas, e que eles
foram importantes na luta também, que foram grandes apoiadores e, a esses,
devemos agradecer, pois se temos hoje nossos direitos, devemos uma parcela, nem
que mínima, a esses homens guerreiros do passado.
E se hoje desejamos ter um
amanhã, é imprescindível largar o discurso de ódio, a segregação por gênero e
nos unirmos como seres humanos abertos para falar e para ouvir as mulheres mas
também os homens.
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