Se lhe
falarem que você é uma Amélia, o que pensará? Assim como eu, provavelmente,
ficará um pouco irritada, pois o estereotipo é de uma mulher frágil, dona de casa, submissa, sem escolhas,
programada para apenas cuidar e servir a sua família, lavar, passar, cozinhar e
parir de acordo com o que a sociedade antigamente exigia e considerava que por
isso a mulher existia, para ser auxiliar do homem, para servi-lo, aquela
bobagem toda de que a mulher veio da costela do Adão.
Amélia
se transformou em um estereótipo, mas a
verdadeira Amélia esta muito longe dessa ideia de mulher. Amélia se tornou muito
conhecida na música ''Ai que saudades da Amélia'' de 1949 de composição do Ataulfo Alves e Mário Lago.
Mas,
recentemente, quando ouvi a música, eu tive curiosidades de saber mais, e foi
ai que descobri que a musica vem de uma brincadeira de Almeidinha¹, que, quando falava-se entre os amigos sobre
mulher, ele falava sorrindo: “Ai, a
Amélia! Aquilo sim é que era mulher! Lavava, engomava, cozinhava e não
reclamava”.
Amélia
Ferreira, uma lavadeira e faxineira que trabalhava na casa de Almeidinha. De acordo com relatos, ela era
casada e batalhava para sustentar seus 13 filhos (Que falta uma televisão e
internet não faz na vida de um casal), guerreira e que não dispensava ir ao
cinema e se divertia nos blocos carnavalescos com o apoio do esposo.
Amélia
é a representação das mulheres batalhadoras, que trabalham, cuidam da casa, da
família e ainda arrumam tempo para se divertir.
De fato, Amélia era uma mulher de verdade.
Temos
muitas Amélias no mundo, muitas mulheres trabalhadoras, guerreiras, sofridas,
que se esforçam para cuidar dos seus filhos. São mulheres que conhecemos
diariamente nos nossos trabalhos, na rua, na faculdade, em suma, em todos os
lugares. Somos todas um pouco Amélia.
Quando Amélia de Mário Lago virou erroneamente
a “mulher submissa” em algum lugar do passado,
esse tipo de ideal de mulher submissa era referente à nossa cultura
machista. Onde as mulheres eram doutrinadas a serem e se sentirem inferiores
aos homens, seja no social, na política e na família. O conceito de mulher na
época era exatamente o estereótipo que fora erroneamente designado a Amélia.
Trazendo
a questão para os tempos atuais, as mulheres devem ser livres para decidir se
devem ser Amélias ou apenas donas de casa. Feministas lutaram séculos para
desconstruir a ideia de mulher submissa, mas não para querer ditar como uma
mulher deve ser e agir no seu lar. As mulheres devem ser livres. Livres para
escolher se querem ser ''Amélias Ferreiras'', ou se querem ser donas de casas.
É importante darmos a nós o direito de escolher e não achar que é errado uma
mulher querer ser dona de casa e cuidar dos filhos, assim como não é errado uma
mulher querer ser uma executiva, desde que ambas decisões venham dela e não por
uma imposição social e/ou religiosa, nem da família.
¹Irmão
da cantora Aracy de Almeida