domingo, 4 de setembro de 2016

A HISTÓRIA DO FUTEBOL FEMININO



Existem relatos de que mulheres jogavam futebol nos anos a.C, no qual elas jogavam uma variação do futebol de campo. O primeiro amistoso internacional feminino ocorreu em 1881, entre Inglaterra e Escócia, em Edimburgo. Dias depois houve um reencontro em Glasgow, mas o duelo acabou cancelado depois que centenas de homens invadiram o campo, empurrando as jogadoras e as obrigando a fugir em carruagens. Já em 1892 veio a primeira partida aprovada pela Federação Escocesa. Não sem a discriminação masculina, classificando o jogo no Scottish Sport como “o espetáculo mais degradante que testemunhamos em conexão com o futebol”.

Documentos mais conhecidos registram o inicio do futebol feminino por volta de 1894 quando Nettie Honeyball, uma ativista do direito das mulheres, declarou que pretendia demonstrar que as mulheres poderiam alcançar a emancipação e ter um lugar importante na sociedade e no esporte e fundou o primeiro clube desportivo britânico chamado, Ladies Football Club.

Outra mulher de suma importância foi Lady Florence Dixie que desempenhou um papel fundamental organizando jogos de exposição para caridade e se tornou, em 1895, presidente da British Ladies Football Club, estipulando que ''as jovens devem entrar no espirito do jogo com o coração e a alma''.

Com a Primeira Guerra Mundial, muitos homens foram para o campo de batalha e as mulheres introduzidas na força trabalhadora, um passo para emancipação feminina, dando oportunidade para mulheres evoluírem e serem vistas socialmente. Muitas fabricas tiveram suas próprias equipes de futebol que até aquele dado momento era privilégio apenas dos homens. No entanto, no final da guerra, a FA ( Football Association) não quis reconhecer o futebol feminino, a despeito do sucesso e popularidade. Isso levou as meninas que permaneceram a jogar em estádios de rugby e sem reconhecimento como atletas.

Após a Copa do Mundo de 1966, o interesse dos amadores aumentou e fez com que a FA, em 1969, criasse o ramo feminino. Foi em 1971 que a UEFA instruiu seus respectivos parceiros a gerir e promover o futebol feminino e na Europa ele foi consolidado nos anos seguintes. Assim, países como a Itália, EUA e o Japão têm ligas profissionais cuja popularidade não deixa a desejar e é considerado similar ao futebol masculino.

Porém no Brasil a história foi diferente, apesar de existir registros de partidas mistas, em meados de 1908. Ocorreu um evento beneficiente, em 1913, onde foi considerado como a primeira partida de futebol feminino no Brasil, mas foi descoberto que na verdade eram jogadores do Sport Club Americano, campeões paulistas daquele ano, vestidos de mulheres. Com isso só tivemos registrado a primeira partida de futebol feminino de fato em 1921, entre moças dos bairros Tremembé e Cantareira, na zona norte de São Paulo, conforme noticiado pelo jornal A Gazeta.

Porém em 1941, durante a presidência de Getúlio Vargas, foi criado um Decreto-Lei 3.199, proibindo a pratica de esportes incompatíveis com a natureza feminina, entre eles o futebol. Esse decreto só foi revogado em 1979. Quatro anos antes de quem vos escreve nascer, diga-se de passagem. Outro órgão que também proibiu o futebol feminino no Brasil foi o Conselho Nacional de Desportos (CND) em 1964 e só foi revogado em 1981, sendo que ainda manteve a proibição das moças se profissionalizarem.

Mesmo sendo decretado a proibição de mulheres participarem de jogos de futebol, em meados de 1958, o Araguai Atlético Clube selecionou 22 meninas para um jogo beneficente, tornando-se noticia e nos meses seguintes vários jogos foram realizados nas cidades de Minas Gerais, Goiânia e Salvador, contudo em 1959, apenas 1 ano depois por pressão dos religiosos o time foi desfeito.

Com a brecha no Decreto em que dizia apenas que as mulheres não poderiam jogar, Léa Campos foi a primeira mulher a terminar um curso de arbitragem no Brasil, em 1967. Superando o Regime militar, a CBD (antiga Confederação Brasileira de Desportos) e o preconceito, Léa seguiu adianta e tornou-se não apenas a primeira arbitra brasileira profissional, mas também a primeira mulher no mundo a apitar um jogo de futebol. Em entrevista ao programa Esporte Espetacular, em 2007, informou que não pode participar sequer da formatura do curso, por represálias dos homens na época. Eis que em 1988, surgiu a primeira seleção brasileira de futebol feminino convocada pela CBF para disputar o ''Women's Cup of Spain''. Elas venceram.

Foi apenas em 1996, à 20 anos atras que o futebol feminino foi incluído na lista dos esportes olímpicos e o Brasil conquistou o 4º lugar, o que ajudou a impulsionar o esporte no país. Alcançaram também o 4º lugar nas Olimpíadas de Atlanta e Sidney e foram medalhas de prata nas olimpíadas de Atenas e Pequim. Em 2007, a seleção conquistou medalha de outro nos Jogos Pan-americanos e nos jogos de Santo Domingo também.

No mesmo ano que a seleção brasileira de futebol feminino conquistou ouro nos jogos Pan-americanos, foi criada a Copa do Brasil de Futebol Feminino, que busca difundir o esporte no país e atrair novos talentos. Talentos como Cristiane, que nasceu em Osasco-SP e desde criança gostava de jogar futebol, e aos 15 anos, foi convocada pela primeira vez para a seleção brasileira. Quem é Cristiana? A jogadora que marcou o gol e garantiu a medalha nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, Hoje, a atacante é uma das peças chaves da seleção e foi eleita a segunda melhor jogadora do mundo, perdendo apenas para a Marta.

De fato, o esporte teve muitas dificuldades no Brasil e chegou a ser exibido em circos como ''atrações curiosas''. As mulheres que decidem seguir essa carreira sofrem com a falta de incentivo e o preconceito cultural. Em sua maioria, jogadoras não são nem registradas em federações esportivas, nem todas as atletas recebem salários ou ajuda de custo dos seus clubes e muitas ganham menos do que um salário minimo. A falta de patrocínio e divulgação, são outros problemas recorrentes na vida dessas moças no Brasil. A presença feminina no futebol ainda busca uma afirmação no país do futebol. A maior dificuldade é tentar driblar o sexismo que é tão predominante na cultura brasileira.

Uma das curiosidades sobre o esporte é que o termo ''torcer'' veio das mulheres que nervosas com os jogos torciam seus lenços nas arquibancadas no séc.XX. As mulheres abraçaram o esporte desde o inicio e tiveram que enfrentar muita resistência, e não apenas pelo direito de jogar mas de torcer, sendo muitas vezes alvo de preconceitos nos estádios. Precisou décadas de luta para que as mulheres conquistassem seu espaço no esporte e ainda hoje, juízas, bandeirinhas e jogadoras enfrentam com coragem os percalços e dificuldades da profissão.

As mulheres estão cada vez mais presentes em campo e nas arquibancadas, mas ainda sofrendo com a disparidade e o sexismo.
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