domingo, 4 de setembro de 2016

HOMENS E O FEMINISMO


 

Existe uma atmosfera de debates dentro dos feminismos, dentre vários motivos, como por exemplo métodos para chegar aos seus objetivos e a inserção de um Estado paternalista. Mas o assunto que mais gera discussão é de fato os homens. Então resolvi começar por responder qual é o papel do homem no feminismo.

Em pleno século XXI, ainda estamos discutindo o sexo dos anjos. A bem da verdade esta discussão não é muito antiga, visto que outrora homens tiveram papel importante na conquista dos direitos das mulheres. Bem disse Carlota Pereira ao subir no púlpito quando se se tornou a primeira mulher a ser eleita Deputada Federal no dia 13 de Março de 1934.

''Além de representante feminina, única nesta Assembléia, sou, como todos os que aqui se encontram, uma brasileira, integrada nos destinos do seu país e identificada para sempre com os seus problemas. (…) Acolhe-nos, sempre, um ambiente amigo. Esta é a impressão que me deixa o convívio desta Casa. Nem um só momento me senti na presença de adversários. (...)Num momento como este, em que se trata de refazer o arcabouço das nossas leis, era justo, portanto, que ela também fosse chamada a colaborar. (…)''

Dentre outras coisas em seu discurso, ela evidencia o papel do homem ao ajudar as mulheres na conquista do voto. Durante a Constituição de 1890 a discussão sobre o voto foi intensa, os adversários do voto feminino na época declaravam que, com ele, se teria decretada ''a dissolução da família brasileira''. Mas naquela época as mulheres que lutavam pelos seus direitos não estavam sozinhas, os homens políticos emprestavam suas vozes para lutar pelo direito delas. Homens como Juvenal Lamartine, Saldanha Marinho, Nilo Peçanha, Érico Coelho, César Zama e Fonseca Hermes.

Nas eleições para a Constituinte de 1933, elegeu-se, entre “os deputados do povo”, apenas uma mulher, Carlota Pereira de Queiroz, por São Paulo. Outra candidata, Berta Lutz, alcançaria a primeira suplência, pelo Distrito Federal.

Em outros tempos e em outros lugares do Mundo também surgiam homens que lutavam ao lado de mulheres, foi assim com Marquês de Condorcet, Heinrich Cornelius Agrippa von Nettesheim, John Stuart Mill, Jeremy Bentham, François Poullain de la Barre dentre outros...

Ao longo dos anos as mulheres tiveram que lutar muito para ter seus direitos prevalecidos. Mas onde elas não alcançavam, seus aliados iam, e onde elas alcançavam, eles estavam a apoiá-las. Historiadores, inclusive, chamam Marques de Condorcet como o pai do feminismo pelas suas inserções em prol das mulheres na época da Revolução Francesa. Stuart Mill foi o fundador da Casa dos Machos Feministas. É curioso notar que este discurso de exclusão do sexo masculino é de vertentes recentes que se baseiam em conceitos de esquerda, onde divide a sociedade entre ''bem e mal'' como se estivéssemos em um conto infantil real.

A sociedade é muito mais do que uma guerra de gêneros. Somos todos juntos, independente do gênero, orientação, etnia e credo, partes importantes na sociedade e na cultura. Se nossa luta é para moldar a cultura de forma que seja mais pluralizada, mais aberta e menos preconceituosa, não podemos lutar achando que agredindo vamos conquistar algo de produtivo, porque não vamos. Não se lava sangue com sangue, não se luta contra o preconceito com mais preconceito.

Parece-me que algumas feministas esquecem da história do próprio ideal e sucumbem em uma rede de ódio ao gênero masculino, desde as mais brandas, que só dizem que homem não pode participar e que misandria é uma reação, até as mais radicais, que dizem que homem bom é homem morto ou que só servem para praticar sexo oral. O que me surpreende nesses discursos é a facilidade de serem propagados e comprados por outras pessoas, as vezes até por homens.

É importante frisar que a ideologia visa desconstruir o sexismo da sociedade, mas acima de tudo, ela visa igualdade de direitos e deveres e liberdade para todos os indivíduos decidirem suas vidas como bem entenderem e não seguindo uma cartilha retrograda de uma cultura sexista que ainda se mantém até os dias de hoje. O feminismo é sim uma busca para colocar mulheres em pé de igualdade com os homens, mas isso não quer dizer que devemos silenciá-los, pois eles certamente também sofrem com o sexismo e fazem parte da sociedade, e nem fazer guerra de quem sofre mais. Quantificar sofrimento não é argumento para silenciar e agredir os outros.

Mas como podemos lutar para sermos vistas como indivíduos se julgamos o próximo pelo gênero? Será que muitas não estão tento as mesmas atitudes que criticam? Se desejamos uma sociedade mais livre, não será excluindo indivíduos que iremos consegui-la. A história já mostra que é possível homens feministas, e que eles foram importantes na luta também, que foram grandes apoiadores e, a esses, devemos agradecer, pois se temos hoje nossos direitos, devemos uma parcela, nem que mínima, a esses homens. 

E se hoje desejamos ter um amanhã, é imprescindível largar o discurso de ódio, a segregação por gênero e nos unirmos como seres humanos abertos para falar e para ouvir as mulheres mas também os homens.
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