domingo, 4 de setembro de 2016

Estupro, ''mina dos 30'', sociedade e considerações



Me perguntaram algumas vezes essa semana se não iria falar sobre o 'estupro na favela'. E eu disse que preferia não falar sobre o caso e não fazer julgamentos sobre ele. Respondi um comentário ou outro mas nunca afirmando ter ocorrido ou não o estupro, por não achar correto definir algo por meias palavras enquanto os órgãos responsáveis estavam investigando. Não cabe a mim, cidadã, definir algo que ainda estava em curso das investigações.

Mas desse caso da ''mina dos 30'' nós podemos tirar várias lições, sobre nossos atos e a sociedade, quando observamos racionalmente e numa visão panorâmica.

A primeira coisa que me chamou atenção nesse caso, foi a quantidade de pessoas que assistiram o vídeo e a maioria é contra exposição de material sexual de terceiros sem o seu consentimento. É importante realizarmos uma avaliação da nossa própria conduta com relação a isso. Ora, se eu sou contra a esse tipo de exposição, seja em vídeo ou foto, para que eu vou alimentar essa situação assistindo? Não adianta esbravejar e fazer textos sobre revenge porn, se você mesmo assiste o que critica. E por favor não usem como desculpa o suposto estupro, vocês assistiram pois quiseram, tiveram curiosidade. Eu não assisti e não me arrependo, pelo contrario. Estão dando mais combustível ao motor que querem parar.

A população virou testemunha, advogado e juiz. De repente todos sabiam exatamente o que tinha acontecido, tanto os que negavam que existiu crime quanto os que afirmavam que foi estupro. E tudo isso por algumas informações da mídia, um vídeo e umas fotos. Poucos tiveram o cuidado de não entrar nessa ''guerra'' e aguardar o andamento das investigações.

A quantidade de pessoas relativizando o estupro foi assustador. Se eu tinha alguma esperança na sociedade, ela foi assassinada por vocês.Impressionante os comentários referentes ao caso. Pessoas que presumiram que foi estupro mas que relativizaram ele como se não fosse importante por causa da vida da moça. Muitos, talvez por ignorância, não entendem a diferença de sexo com consentimento e o estupro. Eu me deparei com comentários que dizia que se ela aceitou transar com 20, mesmo que ela tivesse desacordada não era estupro. (AHm?!?!?!) Mesmo que ela tivesse aceitado se no meio da orgia ela falar ''não quero mais'', ela dormir, ou esta incapacitada de decidir por si mesma, é estupro. Não importa se for uma freira ou uma prostituta. Não é não! E o direito a sua propriedade(seu corpo) deve ser respeitado acima de qualquer coisa.

Tão ruim quanto a relativização do estupro é a banalização do termo. Dizer que toda mulher é estuprada, que olhar pro decote, encostar no braço ou até mesmo tentar roubar um beijo é estupro, é tão absurdo e irracional quanto dizer que a mulher merecia ser estuprada por estar de mini-saia. Entendem? Banalização é tão ruim quanto relativização.

Grande parte, tanto de militantes feministas e de esquerda quanto os que foram contra essa onda querem vencer no grito. O que eu pude ver, dos debates que participei e li, das paginas que comentaram sobre, é que eles afirmavam com toda certeza o que havia ocorrido e esbravejavam ódio. Não se importaram em aguardar, em questionar a situação, em racionalizar. Era como se um lado defendia que foi estupro, o outro sendo anti-feminista deveria presumir automaticamente que não é estupro. E eu tenho visto muito isso, as pessoas - no geral - estão assumindo posições e opiniões para ser contrários ao grupo que repudia.

Estão surgindo muitos casos de denuncias, tanto na delegacia quanto histórias no facebook de mulheres, em geral militantes, que denunciaram homens por abusos sexuais e no final era apontado como mentira, seja para alimentar uma estatística sobre o assunto ou como vingança. Nós não precisamos disso, esse tipo de atitude não ajuda em nada e ainda abafa casos reais com vitimas reais que são muitas, milhares.

Toda vez que o assunto estupro surge nas redes sociais é relacionado a uma defesa a cultura do estupro e frases de impacto de que ''homens são estupradores em potencial'' e/ou ''toda mulher é estuprada diariamente''. Em ambos os casos uma mentira extrapolada por militantes.

Então eu sempre me pergunto: Quando vamos falar sobre os casos de estupro marital? Quando vamos falar sobre prostitutas que são estupradas? Quando vamos falar sobre a diferença entre consentir em um sexo e estupro? Quando vamos falar de casos de estupro de crianças? De mulheres sendo as perpetrantes? Quando vamos explicar sem apelo emocional o simples fato do direito a sua propriedade e que não é não?

Quando você se depara com a maioria das pessoas tendo pensamentos extremistas, surreais, absurdos e se vê em uma minoria, uma pequena parcela que fica entre os extremos, tenha certeza que nós estamos doentes. Nossa sociedade esta doente. Estamos quebrados por dentro e por fora. E agora? Ficaremos a mercê dessa onda de insensatez ou reagiremos?
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